O tratamento do paciente com transtorno alimentar (TA) se faz em equipe, pois são pacientes que apresentam comportamento psiquiátrico e psicológico com consequências negativas na forma de lidar com a comida e com o corpo.
O paciente apresenta um sofrimento autêntico e, muitas vezes, desesperador. Aratangy e Buonfíglio (2017), descrevem que “... não é uma simples insatisfação com o corpo que a maioria de nós vive eventualmente, mas esse paciente tem uma preocupação impossível de evitar, que invade todos os pensamentos e a incapacidade de ter uma vida normal”.
O “lidar” com a alimentação também é comprometido nessa doença, pois gera uma atitude alimentar não saudável, que se manifesta no consumo inadequado de energia e nutrientes abaixo ou acima dos valores calóricos necessários. Apresentam sentimentos confusos sobre o ato de se alimentar (raiva, culpa, desejo, negação...).
Esses pensamentos, sobre o que irão comer durante o dia, e sobre o medo de engordar, são intrusivos, fazem com que eles fiquem aprisionados nestas reflexões desde o momento em que acordam e somente livram-se destes pensamentos depois que adormecem. Estas situações levam a perda ou ganho excessivo de peso.
Diante do “cuidado” desses pacientes, o nutricionista tem um papel importante na equipe. Sua função é não somente avaliar clinicamente o paciente no aspecto nutricional, proporcionando o diagnóstico nutricional exato para a equipe, mas também investigar as atitudes alimentares (“Crenças, pensamentos, sentimentos, comportamentos e relacionamento com os alimentos” Alvarenga, 2010).
De acordo com a posição do Clinical Guidelines for Dietitians of UK (2019), as habilidades gerais do nutricionista que trabalham com TA, são:
Determinar o nível e a forma adequada do suporte nutricional
Entender a complexa relação entre ingestão de alimentos e a saúde física geral do paciente.
Fornecer conhecimento sobre quando comer, o que comer, como comer e inserir os alimentos no planejamento alimentar e ajudar a corrigir o desequilíbrio energético e nutricional.
Auxiliar na re-estruturação das crenças alimentares inadequadas.
Individualizar e traduzir a ciência da nutrição baseadas em evidências e recomendações científicas.
Prestar assistência no planejamento e supervisão nas preparações de refeições.
Discutir estratégias nutricionais
Observar comportamentos alimentares a grupos restritivos que apresentam outra doença (ex: diabetes, doença celíaca, doenças gastrointestinais, alergias alimentares) e normas culturais (ex. Vegetariano).
É importante entender que a abordagem nutricional realizada pelo nutricionista não se restringe apenas a prescrever uma dieta específica. Faz-se necessário ter profissionais capacitados com treinamentos especializados (específicos) e com competência para realizar uma adequada terapia nutricional e não apenas prescrição dietética (Aratangy e Buonfíglio, 2017). O profissional deve ser treinado, especializado e ter capacidade para abordar esse paciente corretamente.
De acordo com sugestões da American Dietetic Association (2011), o nutricionista deve procurar treinamento avançado em técnicas de aconselhamento, tais como: terapia cognitivo-comportamental, terapia comportamental dialéticae entrevista motivacional. Alvarenga, Figueiro e Timerman (2020) complementam afirmando que outras abordagens também podem ser úteis como: mindfulness (atenção plena), mindfulness eating (comer com atenção plena) e comer intuitivo.
É necessário chamar atenção para a necessidade de supervisão com profissionais (nutricionistas) experientes em transtornos alimentares para suporte técnico nos casos clínicos.
Fernanda Pardo de Toledo Piza Soares
Nutricionista - CRN9 1845
Consultório Nutrição e Saúde
Referencia bibliográfica:
Avarenga, M; Figueiredo; Timerman, F. Abordagens diferenciais no tratamento nutricional dos transtornos alimentares. In: Transtornos alimentares e nutrição: da prevenção ao tratmento/ Org. Marle dos Santos Alvarenga, Karin Louise Lenz Dunker, Sonia Tucunduva Philippi. – 1º. ed. Barueri : Manole, 2020 – pag. 293 - 311.
Aratangy, E W.; Buonfiglio, H.B. Como é o tratamento dos transtornos alimentares? In: como lidar com os transtornos alimentares: Guia prático para familiares e pacientes. Org. Eduardo Wagner Aratangy, Helena Bonadia Buonfiglio. 1º. ed. – São Paulo: Hogrefe, 2017.
Clinical guidelines for dietitians treating Young people with anorexia nervosa: family focused approach. 2019.
Position of the American Dietetic Association: Nutritional Intervention in the Treatment of Eating Disorders. J Am Diet Assoc. 2011; 111: 1236-1241.
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